quarta-feira, 9 de abril de 2014

EM BUSCA DE "LO QUE VARGUITAS NO DIJO"


Há tempos queria conhecer o comércio de livros usados das ruas Amazonas e Quilca, no centro de Lima. Numa manhã cinzenta e úmida, tipicamente limenha, decidi conhecer uma dessas ruas em busca do livro “Lo que Varguitas no dijo”, de Julia Urquidi. No livro, Julia dá sua versão do romance que teve com Mario Vargas Llosa, na época um jovem de 18 anos, com quem foi casada por oito anos.  A paixão pela tia inspirou Vargas Llosa a escrever o excelente livro “Tia Julia e o Escrevinhador".

Preferi ir de táxi para evitar o tráfego pesado do centro e a preocupação de encontrar lugar para estacionar. Entro no táxi, digo ao motorista que queria ir ao jirón Amazonas. Ele me pergunta se iria ao mercado de livros usados. Digo que sim, e em seguida ele me avisa dos cuidados a tomar: a região é perigosa, não há policiais, fique somente nas proximidades das lojas de livros.

Perguntei-lhe, então, sobre a outra rua, o jirón Quilca. Ele me disse que era mais segura, porque estava mais perto de áreas policiadas. Além de ser mais próxima. Mesmo assim, recomendou-me ter cuidado com a bolsa. Optei, então, pela rua Quilca. 

Moro em Lima há dois anos, sinto-me segura e não passei por situação em que me sentisse ameaçada. Vários bairros possuem uma guarda municipal, chamada Serenazgo, com módulos policiais fixos e guardas que fazem ronda de bicicleta, moto e camionete. 


Cada distrito de Lima mantém seu SerenazgoBairros com maior arrecadação têm melhor policiamento – essas são algumas das assimetrias que acontecem por aqui. Então, taxistas ou comerciantes quando vêem um estrangeiro nas áreas menos seguras, logo avisam para ficar atento e tomar cuidado. Foi o que fez o taxista.

Chego à rua Quilca. O taxista despede-se e, zeloso, sugere que, para eu voltar para casa, pegue um táxi na praça San Martin, lugar seguro e policiado a duas quadras dali.

Saio do táxi. Sebos vazios e poucas pessoas na pequena rua. Perambulo pelas lojas. Nada do livro “Lo que Varguitas no dijo”. Edição esgotada, dizem os vendedores.

No Boulevard de la Cultura, um vendedor atencioso vai procurar em outras bancas se há uma cópia do livro. Nada. No hay. Olho outros livros e decido levar “País de Jauja”, do peruano Edgardo Rivera Martínez. Pago 35 soles (cerca de 27 reais), espero o troco, enquanto me distraio com os livros das bancas vizinhas. 

Decepcionada por não encontrar o livro que procurava ("Lo que Varguitas no dijo"), caminho duas quadras em direção à praça San Martin para pegar um táxi e voltar para casa. São duas quadras de uma área degradada do centro de Lima, quase esquecida pelo poder público. Uma pena para um lugar de comércio de livros.

Chego à praça San Martin, onde, de fato, havia vários guardas da Polícia Nacional e Serenazgo, um contraste com a rua dos livros que acabava de deixar para trás.

Ui! Cadê o livro que comprei ? Volto à banca para resgatar meu “País de Jauja”. Não estava mais, alguém havia levado o exemplar, deixado dentro de uma sacolinha amarela sobre o balcão, enquanto esperava o troco e me distraía com outros livros.

O vendedor, constrangido, diz gentilmente para eu escolher, sem pagar, outros dois livros. Há Mario Vargas Llosa, Alfredo Bryce, diz. Escolho apenas um exemplar de 15 soles (cerca de 12 reais), um Santiago Roncagliolo, “Abril Rojo”. Ótimo, uma edição Alfaguara, novinha em folha, ainda plastificada.

Em casa, tiro o livro da embalagem. Capa bonita e firme. Abro-o. Tudo fotocopiado ! E algumas folhas um pouco apagadas. Nem parece cópia, diz meu marido. Espero que não faltem páginas.


Da próxima vez, vou ao jirón Amazonas.   

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