O nome Ayacucho remete a fatos importantes que
marcaram a história do Peru. Do lado heroico,
está ligado à Batalha de Ayacucho (1824), decisiva para a independência não só
do Peru, como da América espanhola. Do lado triste e sangrento, reporta ao
Sendero Luminoso, grupo guerrilheiro nascido no interior da região de Ayacucho,
que espalhou terror pelo país nos anos 80 e 90.
Os anos de violência passaram. Ainda sob as marcas dos anos difíceis, os ayacuchanos
veem no turismo uma fonte de recursos. Ao turista, a cidade tem a oferecer o
conjunto arquitetônico colonial, belas paisagens naturais, sítios arqueológicos,
gente simpática e hospitaleira.
Estive em Ayacucho
há pouco mais de um mês, em curta viagem de fim semana
com a família. A cidade de Ayacucho,
antes chamada Huamanga, é a capital da região de Ayacucho. Fundada em 1539, é conhecida
como Cidade das Igrejas (La Ciudad de las Iglesias), com 33 templos e capelas de estilo renascentista, barroco e mestiço. É famosa
também pelas
celebrações da Semana Santa e carnaval, além do rico artesanato.
Igreja da Companhia de Jesus, construída no século XVII |
também pelas
celebrações da Semana Santa e carnaval, além do rico artesanato.
Ayacucho não é propriamente uma cidade turística, como
Cusco ou Arequipa. Com cerca de 160 mil habitantes, localiza-se na serra
central, 560 km ao sul de Lima. Não possui hotéis de grupos grandes, que dominam
a hotelaria na maior parte das cidades turísticas. Tampouco, grandes
supermercados de redes conhecidas em Lima. “Isso tiraria o trabalho da população
local. Já fizeram até passeata contra a entrada de grandes supermercados por
aqui”, contou-me um morador.
E no que depender de ir às ruas, os ayacuchanos não
deixam por menos. Foi o que observei em minha curta estada. Em dois dias, vi
várias passeatas: uma delas convidava
a população a visitar os museus e preservar sítios arqueológicos. Outra, a
marcha da família, era contra a união civil de homossexuais – tema que estava
em discussão no Congresso Nacional do Peru. Vimos, ainda, protesto de estudantes contra a gestão
do reitor da Universidade San Cristóbal de Huamanga, além de manifestação de operários da construção civil.
Passeata para preservação de sítios arqueológicos |
Manifestação contra reitor da universidade |
Conhecendo Ayacucho – Andar a pé pelo centro é a melhor maneira para conhecer a cidade, ouvindo em um canto ou outro um huayno, no violão do ilustre músico ayacuchano Raúl García Zárate. Próximo à Praça de Armas estão os casarões coloniais, a catedral e algumas das 33 igrejas – a maioria delas não abre durante o dia, apenas no final da tarde, perto do horário de missa.
Também fizemos um tour com um taxista recomendado pelo hotel. Fomos até o Mirador de Carmen Alto, passando por várias igrejas, pelo Monastério de Santa Teresa, pelo bairro de artesãos de Santa Ana. Fizemos uma parada maior no Museu Hipólito Unanue, que possui em seu acervo peças da cultura Wari, que se desenvolveu entre os séculos VI e XIII, e de outras civilizações pré-hispânicas.
Uma dica: verifique os horários de museus. O Museu da
Memória (sobre os anos de violência política), que queríamos
conhecer, não abre sábado à tarde.
Artesanato - Pela riqueza e variedade do artesanato Ayacucho foi declarada Capital da Arte Popular e do Artesanato do Peru. Visitamos a casa do escultor Julio Galvez. O escultor nos mostrou as peças feitas em pedra de huamanga (pedra branca de alabastro).
Na casa do tecelão
Erwin Sulca, fomos recebidos por uma velhinha que, falando em quéchua, nos
conduziu ao interior da casa humilde de chão batido e paredes coloridas pelas grandes
tapeçarias de lã de ovelha, feitas à mão e tingidas com extratos de plantas e
insetos.
Carmen Sulca mostra uma de suas tapeçarias |
O passeio termina no Mirador de Acuchimay, no distrito de Carmen Alto, com uma vista panorâmica da cidade e dos Andes. Atrás das montanhas está o Vraem
(Vale dos Rios Apurímac, Enen e Mantaro), que delimita serra andina e selva. Na
região há plantações de coca. O taxista nos conta que tem uma chácara lá.
Não pergunto o que cultiva ele.
Mirador de Acuchimay, no distrito de Carmen Alto |
Arredores - Ayacucho está a 2.700 metros acima do nível do mar. Uma visita ao lugar deve levar em conta um período de adaptação à altura. A cerca de 30 km de Ayacucho, vale a pena conhecer o povoado de Quinua (3.400 metros de altitude), o Santuário Histórico da Pampa de Ayacucho , onde ocorreu a Batalha de Ayacucho, e o Complexo Arqueológico de Wari, um dos maiores centros urbanos do Peru antigo.
Para quem tem mais tempo e interesse por sítios arqueológicos, a cerca de 100 km estão os complexos arqueológicos de Viscashuamán, Pumacocha, Vischongo, Pikimachay, além do bosque de Puyas de Raimondi.
Café belga e culinária – Uma surpresa foi encontrar em um dos casarões antigos que circundam a Praça de Armas o café Via Via, de uma rede belga de café-pousada. O café é aconchegante, oferece bonita vista da Praça de Armas e serve pratos bons e baratos, de comida típica e vegetariana. Boas pedidas são trutas grelhadas e qapchi, prato típico feito com queijo fresco, condimentado com huacatay, cebollita china e rocoto, sobre batatas arenosas cozidas, as papas amarillas.
Vendedora de muyuchi, sorvete típico da região |
Para uma sobremesa depois do almoço não é preciso andar muito. O café vende, no térreo, sorvetes artesanais, de sabores tradicionais ou típicos peruanos, como lúcuma e chicha morada. Uns passos adiante, há as vendedoras de muyuchi. O sorvete de leite e amendoim, típico da região, é batido na hora para o freguês.
Mercado de Abasto |
Vendedoras de flores ao redor do mercado |
Vista da Praça de Armas a partir do Café Via Via |
Praça de Armas |
Artesanato: detalhe de uma cena de procissão em retábulo ayacuchano |
Igreja de São Francisco de Assis, de 1552 |
Trio se apresenta no restaurante El Nino |
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